INFECÇÕES e IMUNIDADE

Ao longo da história os humanos têm feito extraordinários esforços para evitar infecções.

Em 1582 em Alghero, uma cidade na ilha da Sardenha, Itália, um surto de peste matou mais de metade da população. E teria sido muito pior se não fosse um médico de nome Quinto Tiberio Angelerio, seguro e rápido nas suas decisões. Tendo trabalhado na Sicília durante a peste em 1575, Angelerio estava familiarizado com os sinais da doença e tinha experiência em como prevenir a sua transmissão. E assim, quando morreram três pessoas com sintomas de peste, Angelerio pediu aos líderes da cidade para isolarem os doentes. Chamaram-lhe alarmista, mas o Vice-Rei levou-o a sério e a cidade foi completamente fechada, com guardas patrulhando as fronteiras para garantir a observância das regras.
Há relatos de residentes que protestaram contra o encerramento e ameaçaram linchar Angelerio. Só depois da peste se ter espalhado por toda a cidade, é que foi dada ao médico a autoridade para poder implementar medidas de segurança adicionais. O programa de saúde pública do médico foi detalhado num panfleto de 1588.

Algumas das regras são (no mínimo) muito estranhas à luz da ciência actual, mas as suas outras instruções, que foram descritas detalhadamente num estudo sobre Doenças Infecciosas Emergentes, publicado em 2013, são surpreendentemente modernas. “Reuniões, bailes e outros entretimentos são estritamente proibidos”, escreveu, pressionando ainda os cidadãos para desinfectarem tudo o que tivesse estado perto de um doente. Todos foram confinados às suas casas e quem precisasse de ir às compras ou qualquer outra tarefa necessária tinha que ter autorização da “Guarda da Saúde”.
Mas só essa autorização não chegava.” Quem seja autorizado a sair, deve levar consigo uma bengala com a medida de 2 metros porque é obrigatório que as pessoas mantenham essa distância umas das outras.”
Parece que, tal como os médicos dos nossos dias, Angelerio acreditava que o ar não deveria transportar facilmente os micro-organismos para lá dessa distância. De qualquer maneira esta precaução parece clarividente, considerando os actuais protocolos de distanciamento.
Embora não se saiba quantas vidas salvou Angelerio através das regras que instituiu, ou quantas pessoas realmente se aventuraram a andar com bengalas de 2 metros… a peste acabou em Alghero em cerca de oito meses. E durante os anos de 1650, as entidades oficiais confiaram no panfleto de Angelerio para ultrapassar mais um surto.


IMUNIDADE
É sistema imunitário que nos ajuda a combater as infecções, defendendo o corpo humano de ser invadido por vírus, bactérias e corpos estranhos.
Como muitas outras partes do corpo humano, o sistema imunitário também mostra sinais do nosso envelhecimento e algumas das células imunitárias perdem o seu funcionamento. Muitas doenças infecciosas são mais graves nos adultos mais velhos do que nos mais jovens, porque uma longa vida de exposição a doenças vai aumentar o risco de futuras doenças causadas por novas infecções.
Temos ainda a imuno-senescência, o que significa que os mais velhos têm uma melhor memória imunitária para coisas a que estiveram expostos no passado, mas são mais limitados quando respondem a novas doenças. Como em tudo, há pessoas que envelhecem melhor do que outras, quer por cuidarem melhor de si próprias quer por terem a sorte de ter boas características genéticas.


Imunidade “Efectiva” ou “Esterilizante”
Com as vacinas podem conseguir-se dois tipos de imunidade. A “imunidade efectiva”, que impede que o infectante cause doença grave, mas não impede que entre no corpo da pessoa e faça mais cópias de si próprio.
A “imunidade esterilizante”, que impede totalmente a infecção e impede mesmo os casos assintomáticos. A imunidade esterilizante é a maior aspiração de todas as pesquisas de vacinas, mas surpreendentemente é raras vezes conseguida. Qual é o tipo de imunidade produzido pelas vacinas existentes para o Covid-19? Na verdade, ainda não sabemos, ainda não há certezas. São demasiado “novas” e não se pode garantir que previnam a transmissão do vírus, no entanto sabemos que reduzem significativamente a doença.


A Vacinação previne a Infecção e a Transmissão?
Como foi dito acima, ainda não temos certezas se as vacinas previnem a infecção e impedem a transmissão e, embora se acredite que a imunidade persiste durante vários meses, a sua duração total efectiva ainda não é conhecida.
Ainda é cedo para os cientistas responderem a muitas questões importantes, que ainda estão a estudar.
A vantagem crucial das vacinas é que possibilitam que se desenvolva imunidade em grande número de pessoas, ao mesmo tempo. Se só houver um reduzido número de pessoas susceptível a um organismo causador de doença, a quantidade em circulação será mínima.


Eficácia da Primeira Dose de Vacina
Fica-se protegido depois de ter recebido a primeira dose de vacina Covid-19?
Não!!!
O que se pode fazer depois da primeira dose?
Fazer de conta que não aconteceu nada!!!
Só há uma vacina de dose única, para as outras a segunda dose é essencial para se adquirir protecção total.
Embora alguns estudos, em ensaios pré-clínicos tenham mostrado que já há imunidade depois da primeira dose, quem está ainda parcialmente vacinado deve ficar quieto e não mudar nada no seu comportamento até ter feito as duas doses.


Eficácia da Segunda Dose de Vacina
É depois da segunda dose de uma vacina RNA mensageiro que a protecção contra as variantes se torna eficaz, já que assegura uma resposta imunológica muito mais robusta.
E alguém que teve efeitos secundários com a primeira dose, tais como dor no local da injecção, febre e calafrios, durante um a dois dias, deve fazer a segunda dose?
SIM!!!
Os efeitos secundários são compensados pela aquisição de uma forte resposta imunitária que vai proteger eficazmente do vírus. Como sabemos as vacinas dão protecção contra a manifestação da doença mas não impedem, mesmo sem sintomas, que haja transmissão do vírus aos não imunizados. Após a segunda dose considera-se que a possibilidade de transmissão é menor. As boas notícias são, que há indícios de que as vacinas de RNA mensageiro podem bloquear o ciclo de transmissão do vírus entre as pessoas e ainda diminuir a carga viral


É possível haver Reinfecção?
Os cientistas já sabem que os anticorpos desenvolvidos após infecção natural com Covi-19 nem sempre previnem a reinfecção. Na verdade, a maior parte os cientistas não esperam eliminar totalmente o vírus, sendo o seu objectivo real a redução, maior possível, da transmissão.
Quando um número suficiente de pessoas estiverem vacinadas, não interessa se ainda podem ou não transmitir o vírus porque, se apenas muito poucas pessoas forem susceptíveis a um certo patogénico, não haverá muito dele em circulação. Para os que não puderem ser vacinados, torna-se crucial que todos os outros tenham imunidade. Para que haja protecção duradoura é muito importante a toma da segunda dose.


Entretanto devemos manter as medidas de saúde pública que sabemos que funcionam: máscaras, distância física, lavagem das mãos, higiene respiratória e da tosse, evitar aglomerados de pessoas e garantir boa ventilação.
Mais ou menos o que dizia o Dr. Angelerio no Século XVI!!! Há quase 500 anos…
Séculos antes de termos conhecimentos científicos desenvolvidos sobre micro-organismos, anticorpos e vacinas, já havia uma noção muito segura de que as infecções se devem evitar a todo o custo!

Com votos de muito boa saúde,
Dr.ª Maria Alice
Especialista de Medicina Geral e Familiar
Administradora / Directora Clínica – Luzdoc Serviço Médico Internacional / Medilagos
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