Será que a mudança climática está a mudar a Saúde dos Humanos?

Será mesmo o efeito do Clima na Saúde uma realidade?
Não há efectivamente dúvidas de que o clima tem influência no aparecimento, desenvolvimento e disseminação de organismos patogénicos, “produtores” de doenças. Juntamente com outros factores causadores de stress para a saúde, quer naturais quer causados pelo homem, o clima influencia a saúde e as doenças humanas de muitas maneiras, quer fazendo surgir novas ameaças, quer agravando as já existentes.
As alterações climáticas causam, ao longo do tempo, mudanças dramáticas nos ecossistemas, levando a uma menor diversidade e à substituição gradual das espécies. Factores como a temperatura, o dióxido de carbono na atmosfera e as coberturas de nuvens, têm um impacto directo no crescimento de plantas e árvores, afectando os habitats naturais e os ecossistemas. Mesmo alterações muito ligeiras podem ter um grande impacto nas espécies que vivem num ecossistema.
Os fenómenos climáticos extremos cujos efeitos, embora muito intensos, se fazem sentir durante um período de tempo bastante curto, influenciam directa ou indirectamente a frequência e a intensidade de fogos florestais, cheias, fome e migrações, influenciando também as doenças infecciosas epizoóticas, que são doenças que atacam ao mesmo tempo muitos animais da mesma espécie e que podem passar dos animais para os humanos.
A saúde pública é afectada pelas perturbações físicas, biológicas e dos sistemas ecológicos, com um aumento dramático das doenças cardiovasculares e respiratórias e muitas mortes prematuras podem ser relacionadas com eventos climáticos extremos, por mudanças na prevalência e distribuição geográfica das doenças transmitidas através dos alimentos e da água, e também por ameaças à saúde mental.
As épocas de pólenes, sendo mais prolongadas e com maiores concentrações, condicionam que as pessoas sofram efeitos mais intensos desencadeando várias reacções alérgicas como a febre dos fenos, a conjuntivite e a rinite alérgica.
As chuvas muito intensas e a subida das temperaturas, também podem contribuir para problemas da qualidade do ar dentro das habitações, como pelo crescimento de bolor, piorando e dificultando o controlo das doenças respiratórias e alérgicas, como a asma.
O clima é ainda um dos factores que mais influenciam a distribuição das doenças transmitidas por vectores, tais como as pulgas, carraças, mosquitos e também as transmitidas através da água e alimentos.

As alterações Climáticas e o Covid-19
Serão as alterações climáticas um factor causal para o surto de Covid-19?
Em Janeiro de 2021, um artigo publicado na revista Science of the Total Environment (ciência do meio ambiente total) considerou a evidência de que as alterações do clima podem ter tido um papel causal directo, no aparecimento do vírus responsável pela pandemia de Covid-19.
Uma equipa internacional de cientistas, dos Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, afirmaram ainda terem conseguido relacionar directamente as alterações climáticas e o Covid-19.
Mas o Covid-19 não é a única doença infecciosa que tem sido relacionada com as alterações climáticas. Há já muitos anos que a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem vindo a chamar a tenção para a ligação entre as mudanças nas condições ambientais e as doenças epidémicas.
Na altura em que o Covid-19 foi considerado uma pandemia global, estavam as alterações climáticas como prioridade nas agendas políticas. Considerava-se que era o momento crucial para serem tomadas acções decisivas para proteger o futuro do planeta. O impacto da pandemia afastou as preocupações sobre a prioridade da mudança climática.
A revista The Lancet publicou em 2020 um relatório, considerando a necessidade de criar respostas conjugadas para as duas crises para se conseguir uma abordagem optimizada, já que ambas estão relacionadas com a actividade humana, e a consequente degradação do ambiente.


O impacto da Mudança Climática na resposta à Pandemia
A OMS declarou não poder afirmar a evidência de uma ligação directa entre a mudança climática e o aparecimento ou transmissão do Covid-19. Mas, no entanto, acrescenta que quase todas as recentes pandemias tiveram origem na vida selvagem, evidenciando o facto de que o emergir de doenças pode ser em parte provocado pela actividade humana.
O que a OMS diz ser seguro afirmar é que a mudança climática pode afectar indirectamente a resposta à pandemia, minando os condicionantes ambientais da saúde e aumentando o stress nos sistemas de saúde.
Algumas medidas, tais como uma melhor vigilância das infecções na vida selvagem e nos humanos e uma maior protecção da natureza envolvente, poderão ajudar a reduzir o risco de futuros surtos.

Embora as preocupações com as alterações climáticas tenham aumentado nos anos mais recentes, parece haver uma ignorância global generalizada de como a subida progressiva das temperaturas influencia as doenças infecciosas, como é o Coronavírus.
O impacto desta pandemia pode ser responsável por uma grande mudança em 2021, pelo significativo efeito na economia e por fazer ver aos humanos que afinal são muitíssimo vulneráveis.
Mas a mudança climática é uma emergência de saúde pública, globalmente ainda mais complexa e perigosa para a nossa saúde e para os sistemas de cuidados de saúde.

Factos:
  • A mudança climática afecta os factores sociais e ambientais determinantes na saúde: ar limpo, água limpa para beber, comida suficiente e abrigo seguro.
  • Entre 2030 e 2050 é expectável que as alterações climáticas causem mais 250.000 mortes por ano por malnutrição, malária, diarreias e stress.
  • Estima-se que o custo directo dos prejuízos para a saúde seja de 2-4 biliões de Euros/ano em 2030, excluindo os custos em sectores determinantes para a saúde, como a agricultura, águas e saneamento.
  • A redução da emissão de gases com efeito de estufa, se houver melhores escolhas energéticas e alimentares e melhores transportes, pode resultar em melhorias na saúde particularmente pela redução da poluição do ar.

  • As alterações climáticas têm causado muitas perdas de vidas humanas que podem ser prevenidas, evitadas.

    Esperamos ver, no futuro próximo, a implementação de mais estratégias que corrijam os comportamentos humanos, para que haja menor impacto no ambiente e consequentemente no aparecimento, aumento e distribuição de doenças.

    Na verdade, os humanos parecem não ter consciência plena da realidade. Desgraçadamente, ainda não perceberam que não podem continuar a desrespeitar a natureza.
    Já não temos mais tempo a perder!

    Dr.ª Maria Alice Pestana Serrano e Silva
    Especialista de Medicina Geral e Familiar
    Administradora / Directora Clínica Luzdoc Serviço Médico Internacional / Medilagos
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