OS ESQUECIDOS!

Já é tempo de o Mundo realizar que vida… e saúde… é muito mais do que Covid. E que depende directamente do comportamento individual.
A Pandemia COVID-19 transformou o mundo de uma forma tão profunda e inesperada, que tudo terá que ser repensado.
Houve um impacto profundo na economia, sociedade, psicologia, educação e obviamente na saúde, na sua abrangente generalidade, para além de um efeito directo e muito específico já que, globalmente, a 25 Outubro de 2021 foram reportados pela OMS 243.260.214 casos confirmados, incluindo 4.941.039 mortes.


Não devemos esquecer-nos que, sem sombra de dúvida, a pandemia teve um fortíssimo efeito perturbador no equilíbrio dos sistemas de saúde de todo o Mundo, resultando num efeito negativo, terrível e irreversível, na prestação dos cuidados necessários a todas as outras doenças que afinal sempre estiveram presentes, nunca desapareceram.

Os Doentes Negligenciados
O impacto do COVID-19 durante a pandemia, nos que vivem com doenças não transmissíveis, tem sido trágico, dramático.
A conjugação da ruptura dos sistemas de saúde, o confinamento e a sensação de medo de muitas pessoas fazendo-as a evitar os Hospitais e Centros de Saúde, levou a uma notória falta de assistência, com reduzido diagnóstico e atraso no tratamento de pessoas com doenças graves tais como enfartes, acidentes vasculares cerebrais e doenças oncológicas. Foram também negligenciados os check-ups regulares para prevenção da doença e diagnóstico precoce.
A ameaça imediata do COVID-19 consumiu os sistemas de saúde e os seus recursos, sendo também um factor negativo, muito relevante, na exacerbação do problema.
E ainda, a pesquisa científica em todo o mundo passou a estar focada no COVID-19 esquecendo tudo o resto e atrasando o avanço das novas descobertas relacionadas com outras doenças.
A Fundação Bill e Melinda Gates avaliou os dados obtidos na análise da cobertura vacinal de rotina, tradicional, durante a primeira fase da pandemia, tendo concluído que os sistemas de saúde regrediram nessa vacinação cerca de 25 anos em 25 semanas.

A enorme redução dos doentes nos serviços de ambulatório e nos hospitais, quer para consultas quer no internamento, para doentes não COVID-19 durante a pandemia está certamente relacionada com um significativo aumento nas mortes de doentes não COVID-19 fora dos Hospitais.
No entanto temos que reconhecer que o distanciamento social e os confinamentos reduziram obviamente o número de casos de doenças infectocontagiosas, tais como a gripe sazonal, o que seria expectável pela redução do contacto social.

Será que já acabou?
A Dra. Rochelle Walensky directora do CDC, diz que não pode fazer previsões de quando a pandemia vai acabar, mas afirma que a data do fim da pandemia depende do comportamento humano. E isso pode ser um problema.
“Temos vacinas”, diz ela, “o que não conseguimos realmente prever é o comportamento humano e o comportamento humano durante esta pandemia não nos tem servido muito bem.”
Embora algumas comunidades tenham níveis de vacinação muito altos e estejam bem protegidos “há zonas em que a protecção é muito diminuta.”
E diz ainda, “o vírus não é estúpido e vai para lá. Sendo assim a possibilidade de acabar e quando irá acabar, depende da maneira como nos unirmos, como humanidade e como comunidades, para fazer as coisas que precisamos de fazer para nos protegermos.”

A propagação das variantes Delta e a hesitação e negação da vacina, estão a tornar a transição para a normalidade muito mais complicada. A hesitação e negação da vacina, torna mais difícil de se atingirem nas populações as percentagens de vacinação que conferem imunidade de grupo o que facilita que o vírus sofra mutações, criando variantes que são mais facilmente
transmissíveis, mais agressivas e podem ser mais resistentes às vacinas que temos disponíveis.
O peso da doença causada pelo COVID-19 nas pessoas vacinadas parece semelhante, ou mesmo mais leve, do que o que tem acontecido com a influenza na última década, sendo que os riscos para não vacinados são significativamente mais altos.
Eventualmente, todas as pandemias acabam e o Covid-19 começou a parecer entrar por esse caminho, mas é consensual que não será erradicado e que gradualmente se tornará endémico.
Se assim for, irá circular e mutar de ano para ano, sendo uma ameaça para os mais velhos e doentes. Tendo estabilizado o Covid será um inimigo familiar e controlável, tal como a gripe sazonal.
A expansão da vacinação internacional continua a ser essencial para que, após a pandemia, possamos atingir em todo o Mundo uma sensação de “novo normal“.
A vacinação completa é absolutamente fundamental, bem como a terceira dose, tendo em consideração a diminuição dos níveis de imunidade.
Nada de surpreendente, também fazemos a vacina da gripe todos os anos!
Novo ”Normal” ou “Anormal”?
O Secretário Geral das Nações Unidas, Dr. António Guterres disse que a pandemia tem tornado visível a fragilidade das nossas sociedades e a necessidade de as melhorar. Sendo-lhe perguntado o que significava para ele o chamado “novo normal” recusou aceitar que se caracterizasse o actual presente colectivo nesses termos, chamando-lhe em vez disso “anormal.”
Disse ainda que “a vida humana precisa de contacto humano” e manteve que “não haverá um novo normal enquanto não pudermos estabelecer esse contacto.”

Em Cada Tempestade… um Arco-íris
Sabemos todos que das maiores crises surgem sempre as maiores esperanças, já que a necessidade é muitas vezes o motor do desenvolvimento.
Para conseguirmos construir o tal “novo normal” a comunidade global terá que promover novas estratégias.
Desde há muito tempo que, quando estou a acabar de escrever um artigo centrado mais uma vez no COVID-19, digo a mim própria que será o último, mas infelizmente, não tem sido possível até agora e acabo sempre a dizer para terem cuidado, para não se esquecerem das medidas necessárias para a sua segurança, repetindo o que se pode e não pode fazer.
Temos as ferramentas para manter a pandemia controlada, se as usarmos correctamente e as partilharmos de forma adequada, disse um responsável da WHO.
O arco-íris está lá, sem dúvida, mas não sabemos quando iremos conseguir vê-lo claramente.

Tudo depende… de cada um de nós.


Com votos de muito boa saúde,
Dr.ª Maria Alice Pestana Serrano e Silva
Especialista de Medicina Geral e Familiar
Administradora / Directora Clínica Luzdoc Serviço Médico Internacional / Medilagos
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