PASSO À FRENTE… PASSO ATRÁS!

Gostava muito que este artigo fosse cheio, a transbordar, de tudo o que de bom deverá ter o Natal e Ano Novo, mas… não podemos fugir à realidade. A tradição vai ter que esperar melhores dias.

Não tem sido fácil atingir uma evolução positiva, controlada e segura da pandemia de Covid19. Quando parece que estamos a andar para a frente, a entrar no bom caminho, voltamos para trás.

Na Europa o número de casos está a ser devastador e as preocupações com a nova variante Ómicron, detectada na África do Sul obrigaram muitos países europeus a voltar atrás e reintroduzir regras mais restritivas.

À medida que o número de casos aumenta fortemente na Europa, o foco das preocupações tem estado cada vez mais nos não vacinados e como convencê-los da necessidade de fazerem a vacina. Até agora, as medidas em muitos países não têm passado de confinamentos/impedimento de acesso, para quem não tem a vacina.

Vários países estão a considerar a necessidade de tornar obrigatória a vacinação para o Covid19.

Embora haja várias vacinas obrigatórias para as crianças, parece mais difícil convencer os adultos da necessidade comprovada de também haver para eles essa “obrigação”.

Pedro Simas, virologista português, diz que a população em Portugal tem uma boa protecção imunitária e o mais importante  a fazer agora é manter o foco na administração da terceira dose.

Não “fazer mal aos outros”

Em muitas situações os Governos restringem as liberdades das pessoas, não se pode conduzir sem carta ou com excesso de álcool, é proibido o uso sem licença de arma de fogo e há muitos outros exemplos.

Estas restrições servem para proteger os outros de riscos evitáveis e inúteis. As restrições aos não vacinados são semelhantes a essas já existentes.

Simon Rippon, professor universitário de Filosofia na Áustria, disse: “Nós não queremos que o governo decida por nós qual é o melhor modo de vida, que nos imponha uma visão uniforme, única, da melhor maneira para se viver. Mas, neste caso, há factos científicos bem estabelecidos. O que acontece é que os governos estão a tomar medidas para impedir alguns de imporem riscos físicos a outros, porque decidem não tomar uma precaução que está cientificamente bem suportada. É evidente que mesmo as medidas tomadas até agora não são suficientes na situação em que nos encontramos.”

John Stuart Mill, renomado filósofo britânico, diz no seu ensaio Sobre a Liberdade que “o único propósito para o qual o poder pode ser exercido legitimamente sobre um membro de uma comunidade civilizada, contra a sua vontade, é para prevenir que outros sejam prejudicados”.

Confirma-se que a incidência de casos de Covid19 e o aparecimento de formas graves da doença, é muito superior na população não vacinada.

Rowland Kao, epidemiologista na Universidade de Edinburgo explica:

“Sabemos que a vacinação previne grande parte das infecções sendo ainda melhor na prevenção da hospitalização e mortes e embora pessoas vacinadas transmitam o vírus, a vacina bloqueia a infeccção, tendo assim um efeito positivo na transmissão”.

Chegou a Variante Ómicron!

As certezas sobre as implicações do Ómicrom podem demorar algumas semanas e, até lá, a insegurança dos riscos torna a situação mais difícil de gerir. Enquanto o mundo aguarda estudos que nos deem uma visão clara desta nova variante, dados clínicos recentes apontam para um vírus que poderá causar doença menos severa, embora possa ser mais transmissível.

Mesmo se a Ómicron for mais transmissível que a Delta e se torne globalmente dominante, espera-se que poderá não ter piores efeitos. Sendo assim, o impacto resultante da Ómicron na pandemia poderá ser inesperadamente positivo, evidenciando a necessidade de aumentar os níveis de vacinação, reduzindo as hesitações e levando a um maior apoio público para as medidas de contenção como a máscara e o distanciamento, tão necessárias até que a vacinação atinja a massa crítica exigível.

Mesmo nos países em desenvolvimento, a hesitação vacinal emerge como a mais potente barreira para se obterem melhores resultados, mais do que a escassez de vacinas.

O Ómicron é sem dúvida uma nova fase crítica nesta longa pandemia. E fácil e até compreensível, que haja uma reacção passiva perante mais uma surpresa negativa.


Da Pandemia para a Epidemia


É muito improvável que o mundo consiga eliminar totalmente o coronavírus que causa a Covid19.

Mas virá o dia em que já não será uma pandemia, quando os casos já não estiverem fora de controlo e os hospitais não estiverem em risco de “transbordar” de doentes. Muitos especialistas predizem que a disseminação do coronavírus terá as características da gripe sazonal, mas não está muito claro como e quando, isso acontecerá.

A boa notícia é o poder das vacinas, que se mostram mais eficazes do aquilo a que estávamos habituados.

A má notícia é a capacidade do vírus de mudar e evoluir sem ninguém poder prever como será no futuro a Covid19, considerando as mudanças inesperadas nos padrões de transmissão como resultado do aparecimento das novas variantes.

A actual transmissão e disseminação global, uniforme e extensiva, dificulta a declaração do fim da pandemia.

No início de 2020, enquanto a pandemia aumentava, a Organização Mundial de Saúde previu que o novo coronavírus poderia nunca desaparecer e tornar-se mais um vírus endémico nas nossas comunidades.

Uma doença é endémica quando tem uma presença constante na população mas não afecta um número alarmante de pessoas como numa pandemia.

O epidemiologista Fauci disse: ”Esperamos chegar a um nível tão baixo que, embora não esteja completamente eliminado, tenha menor impacto na saúde pública e na forma como gerimos as nossas vidas. Por isso, se mais pessoas forem agora vacinadas, globalmente, esperemos que num período razoável de tempo possamos chegar ao ponto em que possa existir em segundo plano, com altos e baixos, mas sem nos dominar como agora.”

Ainda há muito que fazer!

Não é demais repetir que para se conseguir a transição de pandémico para endémico, o mundo tem que construir imunidade suficiente ao coronavírus, o que significando que muito mais pessoas precisam de ser vacinadas.

Com a recusa da vacina e mesmo de usar máscaras, facilita o aparecimento de novas variantes, fazendo com que a transição leve mais tempo e haja mais doentes e mortes.

Com a chegada do Inverno é muito importante continuar a usar todas as medidas de prevenção, medidas que sabemos que funcionam, com segurança… vacinação, usar máscara em público e nos ambientes de interior, lavar frequentemente as mãos, ficar em casa se estiverem doentes.

A batalha para manter o coronavírus controlado, todos os anos, deverá ser muito parecida com a luta anual contra a gripe. Até a gripe é imprevisível!

Dispomos de armas seguras para nos ajudarem a combater esta guerra, devemos usá-las.

Sei que me tenho repetido na tentativa de esclarecer e sensibilizar. Mas uma razão para o fazer é o último “passo” da pandemia ter sido infelizmente um passo atrás. Só podemos desejar que o próximo passo seja um seguro… “passo em frente”.



Depende de nós, humanos…

Dr.ª Maria Alice Pestana Serrano e Silva
Especialista de Medicina Geral e Familiar
Administradora / Directora Clínica Luzdoc Serviço Médico Internacional / Medilagos
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